
 
- Que estranho essa dor de cabeça
 que não passa.
 E a Maria que chamo 
 e não me  escuta.
 
 Senta, levanta e caminha.
 Segura na barra de ferro.
 Sente calor. Muito calor.
 Sacode a ponta do vestido rosa,
 estampado com flores amarelas.
 - Que flor era mesmo aquela?
 Não lembrava o nome
 e antes sabia.
 Sabia tudo.
 Entendia tudo.
 Conversava sobre tudo.
 Vários assuntos da vida,
 do mundo.
 Agora dividia 
 seu dia-a-dia 
 com a solidão, 
 cadeira-de-rodas,
 bengalas canadenses,
 comadre, fraldas geriátricas,
 idosos, recordações,
 remédios, tédio.
 
 O que a gente faz 
 nesse planeta azul?
 Um planeta cheio de velho,
 velha,
 abandono,
 doença,
 tristeza,
 medo. 
 
 - Peço água, água!
 Planeta de merda!
 Na casa, chegou sacos, sacolas,
 grandes bolsas. 
 Ação em conjunto. Doação.
 Mas nada prestou.
 Muita roupa rasgada,
 suja, encardida.
 O resto do resto.
 Inútil. Sem valor.
 
 - Será que pensam 
 que sou um monte de lixo?
 Se me doaram lixo,
 lixo eu sou?
 Não sei mais quem sou.
 Eu quero um prazer,
 algo decente.
 Urgente!
 
 Eu quero água agora.
 Maria, me dá uma alegria.
 Água,
 por favor.
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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