domingo, 30 de outubro de 2011

Bravo!



nesse cenário retrô
com cortinas/sofá/abajour
escolhi a personagem
como no teatro
e fiz a maquiagem

em cena
cantei meu lamento
caprichando na emoção

mesmo tendo ensaiado
meu texto muda
conforme a lua

com participação especial
de velhos fantasmas
e personagens coadjuvantes
(aquelas mulheres
que fazem teu instante)

em movimentos imperceptíveis
vou tentando manter a linha
dessa protagonista heroína
no rosto uma máscara
impecável de indiferença
(eu tão boa atriz que
até tomei vinho sem tremer)

num gesto com a mão
apontei para a porta onde
estavam tuas malas

(em meu universo poético
não tem mais lugar
para tua vulgar pantomina)

você se arrependeu/chorou/sofreu
na sua última e ótima interpretação

com dignidade e frieza
fechei a porta
após tua saída
agradecendo os aplausos/gritos
dessa imaginária casa lotada

chorei
sozinha no camarim
olhando tua foto
sorrindo pra mim

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A corda e a caçamba



era um café com bobagens
desses encontros de matar saudades
falar de viagens
relembrar velhos tempos
fazendo planos rindo à toa
emoção de sair na noite
armando ciladas nas esquinas
fingindo encontrar nosso príncipe por acaso
enrubescendo de vergonha
se nos olhavam longamente
caminhadas pela avenida
músicas embalando nossos sonhos
um misto de medo e coragem
descoberta da sexualidade
cochichos com portas fechadas
toda a pressa de ser feliz
eu meio hippie
você mais vaidosa
a vida nos fez tomar outros rumos
mas ainda te levo comigo amiga
sempre

Um Brinde

Delicadamente
ergo um brinde
a esta nova mulher
interiorizada
em mim...

Véu

tal qual um retrato
encontrei na viagem
uma mulher sagrada
de véu e mistério
símbolo de recato
trazendo em si
marcas e revelações

o colo um remanso
no olhar leve brisa
que aquieta o instante
feito carícia

ateu que sou
desejei profanar
seu corpo santuário
libertando minha alma prisioneira
tatuando o ápice na pele
até me esvaziar
por completo

por isso delirando te peço
em sacrifício
te entrega
pra mim

Rajapur


Baseado no lindo filme indiano Return To Rajapur...Uma história de um homem que carrega a amada dentro do coração...

De turbante e camelo
seguia pelo deserto
deixando um rastro de flores
na terra dos espíritos perdidos...

- o amor verdadeiro
acontece só uma vez
na vida -
repetia seu mantra pessoal
apertando uma pedra talismã
que usava como japamala

e a tempestade de areia se aproximava
açoitando as lembranças
enterrando tudo pela frente

era o destino

para ser livre
é preciso caminhar
com coragem
sempre

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sacrifice - Lisa Gerrard

Maturidade


procuro a sutileza
um olhar mais profundo
esses detalhes escondidos
que só conhece
quem se entregou ao mundo

cansei dessa prosa amorosa
troca de experiência
ser o que não é
fazer caras e bocas
bares e romance
homem/mulher

toda essa conversa
meio encenação
entedia e se repete
sempre falta emoção

no espelho do banheiro
quase acredito ser boa atriz
mas não consigo

agora percebo
tudo mais simples e sereno

prefiro o anonimato
a este teatro
e assim
me basto
O poeta é um ser solitário no silêncio percorre suas próprias entranhas descobrindo, extraindo as imagens plasmadas do seu espírito que já conhece os caminhos
da sua tela mental. Uma voz sem som, coisa transcendental.
Mesclando suas vivências e passagens por este planeta, percorre seu inconsciênte e toma posse da grandeza do conhecimento a que é destinado.
E se desdobra para mundos inimagináveis numa viagem de muitas idas e voltas, em plena sintonia com o universo perde o domínio de sí próprio.
Não analisa,não articula. Apenas poeteia.
Você é feliz? Não espalhe, já que tanta gente se sente agredida com isso. Mas também não se culpe, porque felicidade é bem diferente do que ser linda, rica, simpática e aquela coisa toda. Felicidade, se eu não estiver muito enganada, é ter noção da precariedade da vida, é estar consciente de que nada é fácil, é tirar algum proveito do sofrimento, é não se exigir de forma desumana e, apesar disso tudo, conseguir ter um prazer quase indecente em estar vivo.
Martha Medeiros
SEM COMPARAÇÕES

A intimidade pessoal de um ser humano,demarca uma área privada que exige tolerância e respeito. É um espaço físico, emocional e intelectual que só pertence a ela/ele. Nem tudo precisa ser revelado.
Todo mundo tem o direito de cultivar um jardim secreto.
Também cultivo meu jardim secreto, meu habitat ecológico interno e politicamente correto.Neste habitat Tenho o direito de ter minha intimidade preservada e deixar minhas gavetas emocionais fechadas para serem abertas apenas nas horas que decido abrir, com o intuito de arrumá-las ou não.Quando me envolvo com alguém, seja este alguém, faço questão de deixar bem claro que sou multifacetada. Sou a soma de várias mulheres, a equação perfeita do universo. No vasto universo de Marias, Claras, Angelas, Danielas Marlenes, Margaridas Rosas e Amélias eu sou a MADALENA COSTA. Portanto, Não me compare a nada, nem a ninguém. Pois sou mais do que você precisa, sou a realização do seu desejo. Logo, não se assuste. Se ajeite comigo e dê graças a Deus.

By Madalena Costa

PS. Fiz este texto em homenagem as fortes mulheres de atitudes.Resignifico também que " Uma mulher de atitude não vive apenas como uma boneca bela, tampouco como uma vazia cinderela"
Mulher é muito mais que uma gaveta cheia de histórias delicadas, de lágrimas imaculadas. Muito mais que um bicho protector, ameaçador e extremamente sensível. Mulher é um céu cheio de sinais, entrelinhas, noites em claro e dúvidas. Chora demais, beija demais, fala demais, ama demais. Nunca se dói de menos. Não por exagero, mas por contentamento mesmo. Eu, por exemplo, vou escrevendo demais para caber aqui dentro, só assim garanto o todo (que nunca é o resto). Mulher é uma força recém – nascida de uma intuição. Eu sou. E não me deixo por nada.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Bela e a Fera



dois corpos ardentes
misturados
ao copo de run
ou
uma qualquer inimiga
em tua vida
infernizar

Inspirada por Nei Duclós e Mario Pirata, fiz essa poesia-brincadeira com o nome de várias poetas que amo... ( Florbela Espanca, Alice Ruíz, Bruna Lombardi, Marina Colasanti, Adélia Prado, Fernanda Young, Gilka Machado, Cecília Meireles, Cora Coralina, Martha Medeiros, Lya Luft, Flora Figueiredo, Maria Esther Maciel,Maria Teresa Horta, Elisa Lucinda, Bárbara Heliodora, Hilda Hist, Lygia Fagundes Teles, Nélida Piñon e Fernanda Mello). É claro, ainda ficou faltando muitas...



nesta ciranda de letras
é só alma feminina
aqui Florbela não espanca
Alice adora raíz
aprendi ser sensual com Bruna
séria com Marina que cola ali e cola aqui
inveja da sabedoria de Adélia
e tatuagens da Fernanda
quando Gilka largou o machado
Cecília se olhou no espelho
todas se renderam ao encanto da doce Cora
que corre linda em meio as flores no céu
Martha vestida de prenda
logo chamou por Lya
que se distraia com os sonhos de Flora
Maria Teresa veio de Lisboa
querendo mexer na horta
sendo observada por Maria Esther
por cima do muro comendo frutas
Elisa já iniciou um Sarau
e Bárbara adorou dar conselhos
já a senhora Hilda veio com seus presságios
Lygia chegou corajosa mas preferiu ficar só olhando
Nélida deu sua opinão "só envelhece quem vive"
no final, todas se encantaram com a mais nova
das poetas
a princesa da rua, Fernanda que gosta de mel...

Apenas Eu...

Com dois lindos filhos criados, agora chegou a minha vez... Meu compromisso é comigo mesmo, fazer o que gosto, amar do meu jeito, respeitar a vida, as pessoas e encontrar meu caminho sem pressa...Ser inteira sempre!Na alegria e na dor...

Carpe diem



Vivendo agora
tudo
antes que Ele resolva
encerrar meu papel
nessa estranha peça
tragicomédia
chamada
Vida

Bracelete I


olhando o presente envolto ao teu braço
foi irresistível desejo fetiche
algemar tua vida ao meu bem querer

minha doce prisioneira
por puro prazer

Bracelete II

o destino foi padrasto
mudou o rumo da história
estilhaçou a confiança
delito flagrante de traição
selado o acordo
( desfeita união )

escolheu recomeçar
poucas roupas na mala
o perfume predileto
diário secreto
com registros do desamor
que décadas rondava
as mulheres da família -
essa saga de vítima e algoz
sina de quem se entrega
numa busca doentia
de um amor quase perfeito

tirou a aliança do dedo
restou a herança banhada
em lágrimas de sua avó

sem medo e com deleite
rumo ao desconhecido
levou apenas o bracelete

Cantos Gregorianos

dedilhava com maestria
as cordas do violão
num sussurro
distante
em meus ouvidos

durmo nas dunas
sonho um enigma
com notas musicais
acordo salivando
no teu peito
e me aquieto
no aconchego
desse abraço

longe da vida prosaica
nada lamento
tudo esqueço
sem armadura
te ofereço a alma
meu ventre vazio
cantos gregorianos
incenso e oração

O Livro

o olho
não engana
entrega
o que sinto

disfarço
lendo um livro
onde letras
embaralham
a visão

dentro do vestido
o corpo
arrepia
de emoção

Pintura de Barbara Jaskiewicz
( Polônia 2009 )

Pecado

quando nasceu nem berço tinha
dormia dentro de uma velha mala
criada em colégio de freiras
achava a palavra pecado forte
com a cor tão vermelha que assustava
vivia no mundo de fantasias
e era feliz naquele faz de conta
mas o tal pecado
ainda metia medo

tímida conheceu a paixão
que apareceu do nada
cheia de mistério
desarrumando tudo
revelando seu corpo
desnudando sua alma
revirando seus valores
nunca sentiu antes
tamanha emoção vulcão

e numa contramão qualquer
o ofendido pecado
injuriado
se perdeu

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Caminhos

sempre
quero pouco
o muito que me basta
levo dentro

na mala
lembranças
nobres sentimentos

na vida
apenas pessoas
novos caminhos

domingo, 9 de outubro de 2011

Sapato Vermelho

o mundo é dentro do palco
do outro lado da cortina
vira/desvira personagem
a menina angelical
ou malvada sensual
que toda história atrapalha
e usa a língua como navalha

aqui fora vai a luta
morena cheia de manha
olhar de malícia
voz lenta de preguiça
e toda a coragem
de procurar/ocupar espaço
enfrentando a vida
sobre um salto alto


confunde real e fantasia
tropeça/cai/levanta
se perde em fuga
dos olhares vorazes
que sempre
a perseguem
por onde anda

teu poder
apenas pisa macio
num simples
sapato vermelho

sábado, 8 de outubro de 2011

Tango

tirei a máscara
arranquei minhas asas
dentro do teu mundo
sou apenas anjo invisível
de olhar recatado
andando pelas ruas
em silêncio

decisão carregada
de audácia/ coragem/ sedução
invento um novo cio
boca e unha vermelha
te procuro insana
assusto a noite
com uivos para a lua

de repente
assumo poderes
tenho fome do teu corpo
sede da tua boca
transformo essa santa
em mim
numa devassa

te encontro
numa esquina qualquer
meu olhar pecado
promete tango
refeito do espanto
nessa dança colada
olho no olho
acabamos
cúmplices
do mesmo desejo
e finalmente
um beijo

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Zen




em silêncio
olhei a flor
desabrochando
aguardei
pacientemente

segui meu caminho
com sabedoria
aprendi nobres verdades
li a sutra 
fui flexível
tatuei flor de lótus
consultei I Ching
meditei
escrituras do amor
desapeguei
tomei chá
saquê

em quietude
apenas mente
alcancei a paz
nirvana

Jardim



lateja
minha cicatriz
florescendo
margaridas
na pele

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Jardim


estou num banco do jardim
onde invento um mundo
de flores, risos e amores
tudo em volta cheira à primavera
e dentro desse paraíso particular
evito pensar em dores
mas fica impossível
quando ouço o barulho do trânsito
que segue louco lá fora

nessa rotina desorganizada
tudo se enrola-enrosca-envolve
em fios soltos de ansiedade
e paranóia
um desastre moderno
que atropela a simplicidade do cotidiano
e transforma os adoradores do sol
em seres bizarros

estou num banco do jardim
me protegendo dessa cruel realidade

Silêncio



no atalho da montanha
em berço de folhas
um guerreiro descança

sábado, 1 de outubro de 2011

Masmorra

Em Paz

senti a dor da tua lágrima
nosso mudo entendimento
no meio da confusão
conheço teu sofrimento
sempre silencioso
onde a mente se esvazia
e no túnel a luz é fraca
mas te guio pela mão


um duelo solitário
onde o tempo é o pior inimigo
vai corajoso nessa luta invisível
de elmo, espada e escudo
segue tua caminhada
para o esquecimento
nesse buraco sem fundo

e no final da batalha
apenas descansa
tua cabeça no meu colo
em paz