sexta-feira, 3 de agosto de 2012

domingo, 29 de julho de 2012

reticências



faço moldes da vida
costuro várias idéias
alinhavo sentimentos vagos
prego botões
sobre cada receio
deixo presa na bainha
da saia
entre as fendas
a paixão fulminante
teço o tesão noturno
e bordo alegria
num zigue-zague
de carinhos
inexplicáveis
...





Imagem de Corinne Lewis

sempre os presságios
um provérbio mal escrito
no muro desbotado

ao som do violino
a borboleta de asa negra
entra pela janela aberta
voa voa e se debate assustada
com a porta que range

passos no meio da noite
de lua cheia
acorda o corvo pousado
no galho seco da árvore

pequenos sinos
e correntes se tocam
ao movimento da velha carruagem
que se perde na longa estrada

no circo abandonado
lona rasgada envelhecida
apenas goteira e tristeza

o palhaço em silêncio
solitário no picadeiro
aguarda o luto
da mulher de vestido negro
olhar gótico
encoberto por um véu
viúva do poeta suicida
do cabelo undercut

sem eira nem beira
passado ou futuro
a vida adormece
no manicômio mental

segunda-feira, 23 de julho de 2012

des(monto) quebra-cabeças
mudo os móveis de lugar
re(viro) velho baú
des(embaraço) os cabelos
des(ato) nós
teço com fios redes na varanda
faço malabarismos diários
devaneio ao anoitecer

e no final
escolho para sobreviver

meu melhor sorriso
- o matinal

domingo, 22 de julho de 2012

Tela de Victor Bauer

recito poesias
diante da janela 

aquece o sol cada palavra
murmurada como prece
voa entre as cortinas
ben(dita)

peço ao vento
meio em lamento
- sopre

leve minha rima
para que sem ver-me
ele sinta


Tela de Renso Castaneda - Pintor Peruano




neste quarto viro pelo avesso
piso em folhas secas
engulo palavras inquietantes

rabisco nas paredes
formas estranhas
caricaturas

fabrico a dor
esculpindo a vida
com suor lágrimas
e fluídos

procuro respostas
- vítima ou bandida

e descubro:

sou minha
pior inimiga


apenas parir poesia
que vem do útero
d'alma entranha
chega rasgando
tocando a ferida
consolando

que arde
explode
re(mexe)
encanta vibra
respira inspira

que acaricia
entende abençoa
ilumina
sagrada-oração

que é bandida
dá murro na cara
soco no estômago
cospe vomita
escarra e não pára
não pára não pára

que deixa de quatro
de bruços de lado
por cima por baixo
e acaba esgotada
solitária posição fetal

que desaba
desabafa
rasga o véu
mostra a cara
corre risco
sangra
inflama
lamenta
chora
ama ama ama

que deita nua
amiga amante
sublime
poesia-mulher