domingo, 27 de novembro de 2011

muitas anônimas ou conhecidas
mulheres que sofrem caladas
nossas irmãs agredidas
por homens que beijaram suas bocas
que um dia chamavam de amor
sonho com todas livres
respeitadas na sua fragilidade
corajosas na hora do basta
não sei se mortas ou vivas
quando choram
quando gemem de dor
todo fulgor apagado
no corpo marcado
fazendo flores de papel
para encher os dias vazios
cercadas de arame farpado
a vergonha paralizando
corta o respeito
quebra o coração
e esse medo vira segredo
desamparado cristal

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

e a brisa como carícia
acendia o desejo na pele
perfumando o ar

vindo dos cachos da dama-da-noite
aquela sagrada sensação
florescia no púbis rosado

uma alquimia de emoção
inquietude amorosa
apenas alma e nudez

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Na noite
dentro do deserto
pediu com a voz rouca
que ele a amasse
sobre a areia

desejou a imensidão
no momento
da mais sagrada doação

desapegou de tudo
se buscou no silêncio

abrindo-se como uma flor

domingo, 20 de novembro de 2011

rega as flores no jardim
quer tudo perfeito
já que o todo o resto não está

a realidade causa desconforto
os rostos e as máscaras
de cada um no dia-a-dia
encenam uma triste mentira
anseios/ medos se escondem
já não existe questionamentos
aprenderam a con-viver com os normais
perambulam pela casa como estranhos

sabe que tudo é patético
mas a farsa continua

Letícia

pode ser uma menina comum
ou muito especial
brincando com suas bonecas
num faz de conta colorido
nova Barbie elétrica
de cabelo solto em desalinho
ou usando trança de Rapunzél

pode ser inteligente falar besteira
achar graça de um monte de asneira
inventar uma personagem qualquer
correr até suar e num mesmo instante
virar polícia ou ladrão
se escondendo atrás da porta
debaixo da cama
esperando a ocasião

pode pensar que é uma princesa
ou até mesmo uma fada
nunca uma bruxa má
ser generosa/esperta
com a inocência
- essa fiel amiga
sempre ao lado

pode ousar/querer
imaginação livre a voar
ter o mundo nos livros que lê
e nem esquentar a cabeça
companheira até o fim
se indignada fala palavrão
e roga praga
por causa de amiga ingrata

pode ter uns gostos esquisitos
curtir os bichos
toda amorosa/gentil
deslizando no escorregador dos sonhos
ou ir de carro/ bicicleta/pedalinho
curiosa do mundo atrás das lentes
dos seus óculos cor de rosa

pode tudo com essa energia
ser apressada
falar pelos cotovelos
com a mochila nas costas
carregada de alegria

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

se estivesse aqui
olharíamos o entardecer
observando a luz
devagar sumindo nas águas
tomando vinho ao luar
espantando os fantasmas
todo medo inseguro de ser/sonhar
tornando a vida mais amorosa
ouviríamos música
apreciando a natureza
em plena primavera
toda beleza florindo

daí onde mora
a milhares de quilômetros
num lugarejo distante
perdido entre tintas/telas
cores diversas
o sol não entra pela janela
apenas um vento frio
que congela tuas mãos
teu solitário coração
é inverno e te aquece
em frente a lareira
onde flui toda criação

nossos olhos não se encontram
vagam por terras deconhecidas
buscando imagens
pequenas lembranças
encantamento
te incentivo a buscar
o que sabes não existir
nossos corações
não nos pertencem
apenas doce ilusão

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Parindo Poesia


aprendi a ler nas entrelinhas
transformo em poesia
todo amor e nostalgia

questiono a vida no dia-a-dia
rogo por coragem
antes de cada viagem

respeito essa disputa inquieta
das palavras
num constante duelo
dentro de mim
querendo ser tudo
puritana devassa
frágil fortaleza
generosa perversa
homem mulher

quando pego a caneta
aguardo a idéia fantástica
que em silêncio se tece
feito gestação

se apossa do meu corpo
se entregando sem reservas
neste sagrado ofício da escrita
e tudo vira poesia
dentro do labirinto andava
sem pressa entoando mantra

não tinha mais nada a temer
já nasceu com a marca
de guerreira iluminada

mesmo sonolenta seguiria descalça
por caminhos desconhecidos
levada apenas pela intuição

sabia que algum dia despertaria
numa cálida manhã ensolarada
entre o perfume das flores

se banharia nua deitaria na relva
sentiria a vida fluindo por dentro
com os olhos úmidos de emoção

renasceria na Paz de uma oração

sábado, 12 de novembro de 2011

aprendi espantar o medo
não sei viver pequeno
emoção transborda
me encontro dentro
resgato tesouros
pérola na concha
sem segredos
inteira/intensa
de mãos dadas
com minha Paz

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

nasceu com asas
cheia de um querer aflito
tinha o mistério da dúvida
sutilmente malvada
dosando humor ironia
pra se defender do mundo
com ousadia
pisa com salto no coração
de quem se aproxima
corajosa
tatuou seus sonhos na pele
indecifrável
uma espécie em extinção
dorme em posição fetal
ao lado da solidão


Lolita sexy bonita
bagunça o armário
cabeça e vida dele
envolve em teias
tece a trama
ainda declama
a poesia lírica de Camões
seus olhos pintados
atingem a presa como uma seta
voz macia que envolve
promete acaricia
num emaranhado
confunde/domina/amarra
escapa entre os dedos
de quem a persegue

volta pra casa
apenas menina
deita
imaginando
que o próximo
será enfim
o seu amor
vamos
levanta dessa cama
seca essas lágrimas
olha o sol lá fora
toma um banho
se perfuma
larga essa capri
escolhe um vestido
tira o tênis
pega a sandália de salto
lápis no olho
batom na boca
a vida te chama
entra nessa luta
de peito aberto
com cara e coragem
me escuta
só tem um jeito
te transforma
tens o poder mulher
usa tuas armas
muda tudo
não te esconde
vira louca
arrebata esse homem

Inspirada na poesia ÁGUA DE LAVAR do Mario Pirata



amei verdade mentira fantasia
amei homem vício bares cigarro
amei vulgar olhar gesto lento
amei tintas telas espaço aberto
amei jeito moleque brincar jogar
amei verde natureza beleza
amei ficar partir entender sorrir
amei absurdo triângulo convexo
amei mergulho semente ventre
amei criança esperança ternura
amei livros poemas palavras rimas
amei bagunça pulsação paixão
amei menina amante mulher
amei cigana feiticeira odalisca
amei príncipe sapo bandido
amei espírito guia vidas passadas
amei intuição segredo coração
amei inteira entregue total
amei inocente culpada caos confusão
amei entediada esgotada estressada
amei cantar brincar sorrir rezar
amei música silêncio incenso
amei perfume shopping cinema
amei doce cocô abóbora sorvete
amei massa pizza cahorro quente
amei amigos filha filho avó e mãe
(agora eu apenas amo
renovada sábia incondicional
e isso acalma alma)

Inspirado no filme Memórias de Uma Gueixa



Chiyo tinha olhos como a chuva
água que lava a terra e apaga o fogo
- está um dia muito bonito para ficar triste -
com essa frase conheceu a gentileza e bondade
em forma de homem
ganhou um sorvete moedas
um sorriso que era um presente
- se tropeçar siga em frente -
deixou de ser uma menina
que olha para o vazio
quis ser uma gueixa
e entrar no mundo dele

uma gueixa não pode amar
era um mundo de mulheres
inveja/disputa/maldade
o sofrimento e a beleza
vivem lado a lado
vendendo habilidades
artista do mundo imaginário
julgada como uma obra de arte

ela se preparou
fez um homem parar
com um simples olhar
aprendeu a servir chá
mostrando o pulso
uma pequena parte da pele nua
esbarrando sua perna na dele
sem querer
de olhos baixos e voz suave
sempre com recato

agora não era mais uma criada
não precisava mais se ajoelhar
era a desejada gueixa Sayuri
quase uma lenda
quando fizer chá
quando servir saquê
quando dançar ou tocar
será apenas por ele
até ser achada por ele
até ser dele

fez uma promessa secreta
trancaria a foto dele
junto com o coração
e esperaria
dançaria com graça e leques
debaixo da neve fina
e esperaria
passearia entre as cerejeiras
sob uma leve chuva de flores
e esperaria
no mundo de regras
e todas as estações do ano
amava e tinha esperança
com paciência esperaria

-se uma árvore perdeu as folhas
e seus galhos secam
pode ser ainda chamada de árvore?-
o coração morre lentamente
como folhas caindo de outono
uma gueixa é uma sombra
ela é um segredo
só pode ser metade de uma esposa

agora ele seria seu protetor
e aquela menina
teve seu desejo realizado
 

brincava de boneca
numa casinha toda rosa
sem entender as regras do jogo
montando sem pressa
as peças do quebra-cabeça

pulava amarelinha
escrevendo com giz no chão
céu/inferno
onde esconde esconde
esse monstro imaginário
era apenas brincadeira
polícia/ladrão
besteira

cantava "se essa rua fosse minha"
e nessa hora até sorria
no caderno
seu desenho era o sol
que na sua fantasia
aquecia todo medo

(estava quase anoitecendo
só a lua por testemhunha
desenhada na janela)

no meio da escuridão
o pavor ainda era maior
e dentro da sua inocência de menina
não entendia essa dor
de olhar para a porta
e entrar seu algoz

- papai chegou

Frida Kahlo



“ Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?”

inteiramente surreal
solta na imaginação do absurdo
ferida aberta que sangra
amiga íntima da solidão

paixão devorando a carne
prisioneira do amor vício
numa entrega total
sem juízo e compromisso
na cela invisível de Diego

ousadia viajando na tela
lavando a alma
entre cores inquietas
ultrapassando todos os limites

emoção plena dentro da tormenta
colecionando perdas sem fim
em sua vida amputada
insanidade rasgada

em êxtase/lágrimas/dor intensa
fez moradia na beira do precipício
florescendo nas cicatrizes

encanto eterno
respingando lamentos
com tintas pincelando a vida
na sua arte que voa livre

eterna
transformou seu Ser imperfeito
em beleza e coragem
entoando
uma triste canção
na frente de uma tela vazia

“Espero a partida com alegria...e espero nunca mais voltar...” Frida

Batina




por acaso
ele a viu nua
sem concentração
viajou em fantasias
pensamentos confusos
noites em claro
orando por salvação

desorientado
no meio das filosofias sagradas
suores-tremores-sonhos
perdeu-se tonto de paixão
por essa simples visão
esquecendo sua mais sublime missão

Mundo de Alice


inventei boas lembranças
vivia feliz nesse mundo
do faz-de-conta
Alice no País das Maravilhas
e nosso porta-retrato
era a imagem da alegria

você cuidando de mim
lendo histórias de fadas e gigantes
levava na escola
auxiliava nas lições
comparecia às reuniões tão chatas

teríamos pequenas diversões
saborear sorvete de chocolate
algodão doce/maça do amor
andar de roda gigante
trem fantasma
e todos os medos fugiriam de mim
porque meu herói
me protegeria dos perigos da vida
até o fim

acordei
(triste realidade)
não gosto de parques
me cuido sozinha
e parei de fingir

emboscada




da tua boca
escorre veneno
detalhe pequeno
que não me detém

pressinto emboscada
armadilha da paixão
não resisto
me atiro suicida
sem rede de proteção

Feitiço




havia magia no ar
lua cheia
bruxas em volta da fogueira
energia da noite
pedi força e coragem
hoje e sempre
incenso queimando
odor de sândalo
ritual sagrado
com banho de ervas
poções diversas
no caldeirão fervendo
suplicando aos deuses
Gaia mãe terra
que ouçam o chamado
pétalas marcam nosso caminho
o fogo da vela
com a chama tremulante
mas a luz do amor
é sempre constante
com os olhos fechados
eu desejo
que esse encantamento
se consuma
te vejo
te sinto perto
dentro de mim