Pequeno texto escrito em 2002...

"Quando eu estava grávida, queria ter uma menina inteligente e  espirituosa, que crescesse para tornar-se a mulher que eu jamais  conseguiria ser.
Muito independente, sem cicatrizes no cérebro e no coração.
Sem aquele servilismo, submissão ao homem, nem aquela obrigação destinada a sempre agradar ao próximo.
 Uma menina corajosa que tivesse a ousadia de falar o  que pensa, sem medo...
Uma menina que não fosse de palavras melosas, nem ferinas, porque não tinha mágoas nem rancor de ninguém.
O que eu realmente queria era dar à luz a mim mesma. Recomeçar do nada e sair dos moldes que me tornaram tão infeliz.
Minha menina seria a garantia contra minha solidão ou dor? Logo pensei...
Eu me achava prisioneira. Mas a prisioneira de minhas fantasias. A  prisioneira dos meus medos. A prisioneira de minhas falsas definições.  Servir e agradar!
O que fiz para ser mulher, afinal de contas? O que  sou agora? E quais são minhas chances de mudar tudo? Porque não  encontro meu caminho, já? Nesse instante!
Minhas companhias visíveis  e invisíveis, me mostrem um sinal mesmo que através de um sonho... Me  sacudam, gritem comigo, apontem o caminho certo!
Sou uma mulhar cercada de livros, lendo, lendo, lendo... procurando respostas...
Porque minha família e conhecidos parecem estar em conspiração para zombarem das minhas escolhas e me fazer sentir vazia?
Escrever, escrever e tentar aprofundar-me cada vez mais em mim mesma.
E todos dizendo que sou íntegra, trabalhadora, envolvida em tudo que faço, disposta, corajosa, sincera, etc e tal...
E eu a certa toda "errada",  estou aqui sozinha, abraçada a solidão dentro do meu quarto.
Mesmo com tantas qualidades, aos olhos de muitos , eu ainda era um  desastre, porque não consegui formar uma família feliz. Viver a tão  sonhada harmonia familiar.
Sabia que era um absurdo! É um absurdo, sim!  
Mas alguma coisa dentro de mim, repetia aquele catecismo. E ficou bem  fundo marcado a ferro quente, pedindo desculpas a todas as pessoas por  não haver conseguido formar minha família feliz."
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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