quinta-feira, 8 de março de 2012

Lá fui eu
pensando que seria o inferno
mas descobri o céu
das emoções.

O medo havia me afastado
da velhice que assusta,
do abandono que apavora,
da lentidão dos passos
e das horas.
Mas é um caminho
a percorrer,
onde até as moscas são bem-vindas
nesse lamentável e simpático lugar.

Num canto do jardim,
uma senhora com cachos grissalhos,
entoa um canto lírico
com as mãos postas.
Todos escutam em silêncio.
Usava um tom diferente
num mundo à parte,
desconhecido,
profundo,
misterioso,
melancólico,
que poucos compreendem.

Eu, a criatura normal,
entre eles,
acabo virando uma estranha no ninho,
onde descubro
um espaço transcendental
que encanta,
em risos, lamentos e lágrimas.

- Aqui é tudo boca mole!
Dizia uma senhora de saia florida
e óculos de sol:
- E a pior sou eu!

Outra, enlaçada por uma faixa,
numa poltrona confortável,
de corpo frágil e mente esperta,
não parava de falar.
Carência de gente.
Vontade de contar histórias.
- Porque bobo assim?
Pára com isso rapaz!
Tu és um "churrasquito".
Te anima e manda todo mundo
cagar!
E finaliza com uma benção...
"Em nome do Pai
eu te abençoo..."

Alguns tossem,
outros cospem!
E comem uma fruta,
e vão ao banheiro
acompanhados de suas bengalas.
Pés inchados,
boca seca,
boca murcha,
com dentes,
sem dentes...

As cadeiras de rodas
rodam pelo pátio,
entre atendentes vestidas de branco.
Umas simpáticas,
outras não!
Anjos protetores.
Anjos cuidadores.

Alguns viajam,
conversam diante do espelho,
fazem perguntas,
(que nunca serão respondidas),
contam piadas sem nexo,
acham graça,
reclamam,
se cumprimentam,
se descobrem,
se olham dentro dos olhos.

Um homem magro
de pernas finas com varizes,
feridas e curativos,
conversa com a senhora de olhar triste:
- Mulher que apanhou muito
quando criança,
fica assim braba!
Sem achar graça,
manda ele se calar!
E segue o homem a falar de futebol,
com seu amigo
deficiente visual!

Tem o Capitão,
que fuma no portão
e ainda não perdeu a razão!
Ele sabe que "em terra de cego,
quem tem um olho é Rei"!

Com vestido leve e cabelos brancos,
de pés descalços e passos suaves
ela anda de um lado para outro,
perdida em lágrimas,
dizendo que sente frio na sombra,
e calor no sol.
Me pede ajuda,
e eu digo que tudo vai ficar bem,
que vou rezar por ela...
Agradecida, continua a caminhar.

Tem o homem Coração
que fica tudo a observar
e sempre tenta ajudar.
Com esse eu aprendi
o verdadeiro significado
da palavra amar.

Família pouca.
Pouco tempo.
Migalhas de amor,
misturadas a dor.
Solidão enorme e um vazio,
esse bicho papão
que assusta o ancião!

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