domingo, 8 de julho de 2012

Tela de Mark Arian

Ela podia tudo, depois das histórias que já viveu!Podia sair de madrugada, entrar no mar de vestido branco, enfrentar o trânsito na hora mais agitada.
Pesadelos não incomodavam mais nas noites de tempestades. Atravessaria o mato a pé, pisaria em cacos de vidro espalhados pelo chão, dançaria maltrapilha, mal amada, mal criada.
Seguiria seu destino sem temer, porque ela podia tudo. Escrevia palavras soltas na parede do quarto, se equilibrava no salto de um sapato vermelho,roçaria o vento e cada momento. 
Colhia uvas direto das videiras tão carregadas.Todos os sabores! Uvas rosadas, uvas tintas e uvas brancas.Espremeria uma a uma e se lambuzaria em completa nudez.
Viveria emoções que ninguém mais prestava atenção. Fazia questão!
Lembranças pré-históricas a perseguiam, sujando a rua, sua cama ao anoitecer e o aquário da sala.Mas ela podia superar, sem se esborrachar no chão e cair em armadilhas.Se livraria das tentações!
Ao amanhecer, sentia o cheiro adocicado do café,o perfume do sabonete e das balas de banana. Escutaria o riso da menina descalça pisando na areia, correndo livre em volta dos canteiros floridos!
Ela podia tudo sim, e sempre sabia fazer a coisa simples valer a pena. Sem ambição, cheia de um amor infinito que queria ofertar. E desejos maiores! Precisava das atitudes maiores, grandes sentimentos, grandes emoções.Não bastava apenas respirar.
Pensou na sua imensa dor e embrulhou para presente, com laço de fita lilás! No mato, andou, andou até cansar.Ia jogar o embrulho no abismo e não conseguiu. Lá na beira, apenas plantou amor-perfeito. Enfrentou com coragem o cansaço, o medo, lágrimas e de cabeça erguida, voltou para casa com a dor de estimação debaixo do braço.
E no final, descobriu aliviada, que ela podia tudo, sim!

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