era ancião
com peso da vida
nas costas
ouvindo no rádio
que vai nevar
caminhava
a passos lentos
no pátio da casa
aproveitando
o calor do sol
tinha insônia
horas que passam devagar
tudo era mais lento
no relógio da sala
tique taque
que saudades
o inverno chegou
a manta
que ganhou do filho
cobria seus ombros
encurvados
frágeis
ao longe
um cão late
não sabia o que ouvir
um tango de gardel
ou samba de noel
na foto da estante
o sorriso da mulher
que temperou sua vida
com prazeres
da carne
e literatura
- um sorriso constante
novamente
não lembrava
onde guardou os óculos
(talvez esquecido
em alguma gaveta vazia)
o relógio
continua a andar
tique taque
sem parar
sente algumas dores
no corpo
e na alma
não é a solidão
que incomoda
nem o tique taque
do relógio da sala
eram as lembranças
(feito fantasmas)
no silêncio
assombrando
Nenhum comentário:
Postar um comentário