quarta-feira, 20 de junho de 2012


era ancião
com peso da vida
nas costas
ouvindo no rádio
que vai nevar

caminhava
a passos lentos
no pátio da casa
aproveitando
o calor do sol

tinha insônia
horas que passam devagar
tudo era mais lento

no relógio da sala
tique taque
que saudades

o inverno chegou
a manta
que ganhou do filho
cobria seus ombros
encurvados
frágeis

ao longe
um cão late
não sabia o que ouvir
um tango de gardel
ou samba de noel

na foto da estante
o sorriso da mulher
que temperou sua vida
com prazeres
da carne
e literatura
- um sorriso constante

novamente
não lembrava
onde guardou os óculos
(talvez esquecido
em alguma gaveta vazia)

o relógio
continua a andar
tique taque
sem parar

sente algumas dores
no corpo
e na alma

não é a solidão
que incomoda
nem o tique taque
do relógio da sala
eram as lembranças
(feito fantasmas)
no silêncio

assombrando

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